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Out16
JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS O "CAGA LIVROS" QUE ESCREVE O QUE TODA A GENTE JÁ SABE E SEMPRE COM SEGUNDAS INTENÇÕES CAMUFLADAS, VAI BOTAR MAIS UM NO MERCADO. LEIAM A ENTREVISTA E TIREM AS CONCLUSÕES - "É um romance sobre a corrupção na Igreja"
António Garrochinho
Vaticanum é o título do novo livro do autor que mais
vende em Portugal. Discorre sobre os negócios escuros
na Santa Sé e as ameaças à vida do papa.
O novo romance de José Rodrigues dos Santos
centra-se no Vaticano, um terreno já pisado por
Vários mestres do thriller, entre eles Dan Brown.
Talvez por isso mesmo, o autor desloca o cenário
da ação narrativa para uma ameaça à vida do
Papa, alegadamente Francisco, e recorre aos avisos
reais já feitos pelo Estado Islâmico à sua vida, bem
como, diz, à "verdadeira história das ligações entre o Vaticano, a máfia e o sistema político".
Desta vez, antecipa a publicação de Vaticanum três
semanas em relação à tradicional data de fim de
outubro. Também interrompe a edição da trilogia, à
qual só falta o volume final, para recuperar o seu
mais famoso protagonista, o criptanalista Tomás
Noronha, que o acompanha desde o livro O Codex
632.
O Vaticano é o paraíso para o autor de thrillers. Era impossível não o usar como cenário de um livro?
Impossível não era, mas revelou-se difícil. Na verdade há muito que tinha decidido não fazer um romance passado no Vaticano. Mas quando vi as cerimónias de início de pontificado do papa Francisco fiquei impressionado com toda a sumptuosidade, a história, os rituais, as cores, a magnificência que rodeava o papado, e achei que era tudo de tal modo cénico e grandioso que realmente daria um excelente palco para um romance. Foi assim que nasceu a ideia de escrever Vaticanum.
Também não há melhor do que o labirinto das profecias para o autor de thrillers. Era impossível não as utilizar?
As profecias são um caso diferente. Existem múltiplas profecias que apontam para o assassinato do papa, incluindo as de Fátima e de São Malaquias, e isso fornecia realmente um bom gancho para o lado ficcional do romance.
O que é mais perigoso: a falta de ética da Santa Sé; o envolvimento com a máfia ou o Estado Islâmico?
Não consigo decidir o que é pior. Acho tudo mau. Na verdade o tema não-ficcional de Vaticanum é a corrupção na Santa Sé. As histórias de corrupção contadas no livro, envolvendo o papado, a máfia e os políticos, não são inventadas mas verdadeiras. Repito: são verdadeiras. E não são edificantes. Acho que se aprende muito a ler este livro.
O Estado Islâmico é uma real ameaça para o papa Francisco?
Com certeza. Ainda no mês passado o Estado Islâmico anunciou que o papa era o inimigo número 1 do islão. O Estado Islâmico não escolheu o presidente dos Estados Unidos ou de Israel como principal alvo mas o papa. As ameaças dos fundamentalistas islâmicos contra a vida do papa são múltiplas, nesse sentido o romance não inventou nada. E o próprio papa já disse em público que tem a sensação de que o seu pontificado será curto.
Refere uma vasta bibliografia no final. Para credibilizar a intriga?
Toda a bibliografia que menciono é de investigação, necessária para contar a verdadeira história das ligações entre o Vaticano, a máfia e o sistema político.
A investigação foi mais intensa do que para os anteriores livros?
Quem me lê sabe que todos os meus romances envolvem muita investigação. Este não foi exceção.
Não resistiu a incluir as Aparições de Fátima. Acredita na sua veracidade?
Não sou uma pessoa mística, sou um homem de ciência e de razão. Mas as profecias existem e influenciam a vida de muita gente. E os papas acreditam nelas.
O tema da religião tem marcado presença nos livros mais recentes. É um sinal dos tempos?
Vaticanum não é um romance sobre religião, é um romance sobre a corrupção na Igreja. Os meus únicos romances sobre religião foram Fúria Divina, dedicado ao islão radical, O Último Segredo, relativo às descobertas dos historiadores sobre Jesus, e a Trilogia do Lótus, que aborda as religiões políticas - marxismo, fascismo e nazismo. Os meus restantes romances não são sobre religião. A Fórmula de Deus, por exemplo, e apesar do título, não é um romance sobre religião, mas sobre ciência e filosofia.
Nota-se uma predileção pelas cifras. São uma boa muleta narrativa?
O Tomás Noronha é um criptanalista, pelo que se torna inevitável, e até obrigatório, que as suas aventuras envolvam cifras. Se eu arranjar um herói que seja detetive, é inevitável que as suas aventuras envolvam crimes... Note-se que os meus outros romances, os históricos, não envolvem cifras. Mas gosto de meter charadas nas histórias do Tomás, pois interpelam o herói das aventuras e também o leitor. Com as cifras, o leitor tem a possibilidade de resolver o mistério antes do próprio Tomás. O leitor torna-se personagem e isso parece--me uma maneira interessante de estruturar um romance.
A presença nos últimos livros da parceira Maria Flor deve-se à necessidade de uma personagem que seduza as leitoras?
O Tomás estava a tornar-se um D. Juan e pareceu-me que ele precisava de estabilizar a sua vida emocional. A Maria Flor apareceu logo na sua terceira aventura, O Sétimo Selo, mas só recentemente a relação entre ambos se desenvolveu.
À página 565 refere os truques de ilusionista para explicar o engano nas investigações. Não teme enganar-se na previsão feita nas últimas cinco linhas da Nota Final?
Seria mau para a humanidade, e em especial para o papa, se eu me enganasse.
Vaticanum interrompe a continuidade da sua Trilogia. Vai haver terceiro volume?
Claro que sim. O terceiro tomo da Trilogia do Lótus, O Reino do Meio, será publicado no próximo ano. Ainda estou a trabalhar nele, mas já me encontro perto do fim.
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