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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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20
Dez16

Juntas de freguesia ao serviço dos CTT?

António Garrochinho




Os Correios pertencem ao imaginário (pelo menos) daqueles que, como eu, andam pelos cinquentas. As cartas e os postais eram meios de comunicação que permitiam afinar a letra, apurar a prosa, contar infindáveis histórias, expressar sentimentos, manifestar paixões... Os marcos do correio, que até tinham uma espécie de relógio onde se indicava o horário da próxima recolha, e os carteiros eram "figuras" que faziam parte das nossas vidas. Lá no prédio, o carteiro era o sr. Adolfo que, todos os dias, aparecia a meio da manhã, com um grande saco de couro castanho, de onde tirava as cartas (e impressionava-me, sempre, como elas já vinham organizadas...). Que, em dias de boa disposição, aproveitava para dar um chuto na bola com que nos entretínhamos no pátio. E que, na altura do Natal, nos pedia para falarmos com os nossos pais para que estes lhe dessem "a consoada", que mais não era do que a gorjeta pelos serviços prestados ao longo do ano (e que, creio, compensariam o baixo salário no tempo em que o subsídio de Natal era uma utopia!...).
Naturalmente que os tempos mudaram e que, hoje, os meios de comunicação são radicalmente distintos. Mas todos fomos assistindo, no final do século passado, às artimanhas que os Correios utilizaram para degradar o serviço e encarecer o preço dos serviços postais. Um correio que funcionava bem (bem sei que o correio internacional durava uma eternidade que nos fazia regressar antes dos postais remetidos de qualquer cidade estrangeira...), onde, internamente, as cartas chegavam rapidamente. Os Correios inventaram, então, o "correio azul", fazendo com que pagássemos o dobro para garantir o que antes estava quase sempre garantido: entregar a carta no dia seguinte. E, depois, o "correio verde" e outros sucedâneos, impondo a regra de que se queremos ser "bem" servidos temos de pagar mais por isso...
Na década passada, os Correios fecharam serviços. Preparando a privatização da empresa, os seus gestores, só na cidade do Porto, encerraram dezenas de postos e desativaram mais de uma centena de marcos de correios. Face a esta situação, e numa cidade em que mais de 20% da população tem mais de 65 anos de idade e cujas reformas chegam pela via postal, diversas juntas de freguesia, voluntariosa mas erradamente, decidiram estabelecer protocolos com os Correios, disponibilizando instalações e funcionários para assegurarem serviços de correio aos seus fregueses, a troco de pequena contrapartida pecuniária. Como hoje se vê, esses protocolos são deficitários para as juntas de freguesia. O que significa que somos nós, cidadãos, que estamos a pagar a uma empresa privada para que as nossas juntas de freguesia assegurem um serviço que essa mesma empresa deveria assegurar - empresa essa que, só nos primeiros 9 meses de 2016, teve um lucro de 46 milhões de euros! Esta vergonha não pode continuar. Sob pena de qualquer dia termos as juntas de freguesia a angariarem clientes para o Banco CTT...

*ENGENHEIRO


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