21
Ago18
Monchique e «a excepção» - Agostinho Lopes
António Garrochinho
Monchique e «a excepção»*
Todo o discurso do 1.º Ministro e do Ministro da Administração Interna é uma encenação e a melhor demonstração do que não fizeram nem vão fazer. O Governo não está a responder aos problemas cruciais da floresta portuguesa. E não é a questão de que não se pode fazer tudo num ano. Ninguém de bom senso o exige. Mas pelo caminho encetado nem daqui a 50 ou 100 anos estará feito.

Monchique era um caso programado, depois do Incêndio Florestal (lF) de 2003. Passados alguns anos, só não via quem não visitava Monchique ou não queria ver.
A operação do 1º Ministro em Monchique, integrada na operação «limpa valetas», só evidencia a fraude propagandística encenada em 2018 pelo Governo. Como o PCP denunciou.
Terá havido no IF de Monchique problemas no combate, que a seu tempo se analisarão. Mas tudo indica que nesta vertente foram, também, mais as vozes que as nozes.
Mas há coisas a dizer sobre o que se tem dito. Falar da «excepção» de Monchique, é esquecer todas as «excepções» que foram sendo invocadas depois de 2003 e 2005. Gerês, Serra da Estrela, Planalto Mirandês/Nordeste Transmontano, Caramulo, Tavira/S.Brás de Alportel, Boticas/Ribeira de Pena, etc. É esquecer as dramáticas «excepções» de 2017 de Pedrogão e de Outubro nas Beiras.
Falar das alterações climáticas para provar a excepcionalidade de Monchique é uma tentativa de fugir ao facto de essa área não estar preparada, prevenida, ordenada, para a excepção climática!
É como tentar justificar o IF do Pinhal de Leiria como uma conspiração de madeireiros - mesmo se a houve (1). Sem nunca se assumir as responsabilidades políticas pela situação dessa Mata Nacional, por única e irrecusável opção de sucessivos governos PS, PSD e CDS.
Todo o discurso do 1.º Ministro e do Ministro da Administração Interna é uma encenação e a melhor demonstração do que não fizeram nem vão fazer.
O Governo não está a responder aos problemas cruciais da floresta portuguesa. E não é a questão de que não se pode fazer tudo num ano.
Ninguém de bom senso o exige.
Mas pelo caminho encetado, nem daqui a 50 ou 100 anos, estará feito.
É continuar a falar de uma reforma florestal que não existe.
É invocar mudanças não verificadas nem comprovadas no terreno. No ordenamento. Na prevenção.
Nos recursos humanos. É não querer assumir o problema da dimensão do investimento e dos ritmos necessários da intervenção pública.
Em Agosto de 2018, o 1º Ministro fala de que «a lei orgânica da ANPC e do Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta estão também para aprovação» e que «o processo de recrutamento de peritos está em curso»!
O problema começa logo, pela ausência de balanço rigoroso, concreto e atempado do que foi ou não feito, decorrente de alterações legislativas e das medidas aprovadas no OE/2018! Esse escrutínio não foi feito na Assembleia da República. Julga-se que nem o Governo saiba…
Mas o Governo não está sozinho na sua cruzada de desresponsabilização, antes bem acompanhado por PSD e CDS, que continuam a botar faladura, como se não tivessem nada a ver com o que acontece na floresta portuguesa, pelo que fizeram e sobretudo pelo que não fizeram quando governaram.
É particularmente hipócrita a posição de A. Cristas, que Ministra da Agricultura, fez o maior corte alguma vez feito no investimento público na floresta (desvio para o agronegócio) para além de outras e vastas malfeitorias.
E a questão não é a da «lamentável querela que os partidos alimentam em torno do fogo» como refere um dos participantes profissionais nas querelas mediáticas de apoio à política de direita que conduziu a floresta e o mundo rural à complexa e frágil situação, de que os IF são uma expressão ().
O problema é da responsabilização político-partidária pelos IF. É, em linguagem chã, pôr os nomes aos bois.
O busílis é a que as declarações de A. Costa e E. Cabrita são a prova provada de que as coisas não endireitaram. Pior, como eles estão, pelo que dizem, convencidos de que vão com o passo certo, tarde ou nunca se endireitam. O resultado só pode ser em cada ano, o desastre. No seu linguajar: «a excepção»!
Nota:
1- Ainda se espera que a PGR diga alguma coisa sobre esse e outros IF de 2017;