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Jul16
O país onde o presidente manda bombardear o vice
António Garrochinho
Veículo das Nações Unidas passa por várias famílias deslocadas por causa dos confrontos no campo de Tomping, em Juba, Sudão do Sul
País assinalou cinco anos de independência no sábado, mas desde a véspera que há registo que confrontos entre forças leais a Salva Kiir e a Riek Machar e de 300 mortos
Independente há cinco anos, o Sudão do Sul arrisca mergulhar numa nova e sangrenta guerra civil. Apesar dos apelos à calma, os combates violentos iniciados na sexta-feira prosseguiram ontem, acompanhados de explosões em Juba, a capital daquele que é o mais jovem país do mundo. Há registo de mais de três centenas de mortos (incluindo dois capacetes azuis chineses da missão da ONU). E, segundo a imprensa internacional, existe uma forte presença policial e militar nas ruas da cidade. O vice-presidente do país e ex-líder rebelde acusou o presidente de ter mandado as forças leais ao regime bombardear os seus homens.
No entender de Riek Machar (que pertence à etnia Nuer), o facto de as forças leais ao regime terem bombardeado as suas forças "demonstra que o [seu] parceiro não está interessado na paz". Através do Twitter, segundo a Reuters, o vice-presidente aproveitou ainda para pedir contenção: "Apelo à calma e à contenção nestes confrontos. Estou a salvo. Ninguém deve tomar a lei nas suas mãos para desestabilizar este país". Salva Kiir, presidente de etnia Dinka, não comentou, no imediato, as acusações do número dois do governo. O ministro da Informação do Sudão do Sul, Michael Makuei, anunciou entretanto que o presidente ordenou ontem um cessar-fogo. Este deveria entrar em vigor às 18.00 locais (16.00 em Lisboa), segundo um comunicado lido pelo ministro na televisão do Estado e citado pelas agências internacionais.
Machar tornou-se vice-presidente do Sudão do Sul em abril, à luz de um acordo de paz destinado a pôr fim a dois anos de guerra civil. O conflito, que eclodiu em 2013, fez milhares de mortos e forçou 2,5 milhões de pessoas a fugir de casa. Metade da população do país, 11 milhões de habitantes, lutava todos os dias por arranjar comida para alimentar a família. E a produção de petróleo, a principal fonte de receita do Sudão do Sul, caiu.
Uma nova erupção no conflito poderá fazer com que mais pessoas fujam para os países vizinhos, como a República Centro Africana, a República Democrática do Congo ou o Burundi, onde a situação também não é estável. As Nações Unidas estão, por isso, preocupadas com a atual situação. No domingo o Conselho de Segurança da ONU apelou aos países vizinhos do Sudão do Sul que ajudem a pôr termo aos combates na capital do país e a reforçar o contingente de capacetes azuis no terreno.
Numa declaração unânime, os 15 países do Conselho de Segurança exigiram também ao presidente e ao vice-presidente que "façam tudo o que estiver ao seu alcance para controlar as suas respetivas forças e que acabem urgentemente com os combates, prevenindo a propagação da violência". Diplomatas citados pelas agências indicaram que a questão de um embargo às armas com destino ao Sudão do Sul, defendido pelo Ocidente mas que encontra reticências por parte da Rússia, não foi abordado durante as consultas.
Devastado por anos de sucessivas guerras civis, o Sudão do Sul declarou a sua independência do Sudão a 9 de julho de 2011. Detentor de 75% das reservas de petróleo do antigo Sudão, de maioria cristã, o mais jovem país do mundo viu a sua independência amplamente apoiada pelas principais potências mundiais, ao contrário do que sucedeu, por exemplo, com o Kosovo.
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