Quem passasse ontem pelo largo Luís de Camões, ao final da tarde, encontrava um cenário que provavelmente não estava à espera: uma quantidade anormal de pessoas de bandeiras ou placartas em mão a gritar palavras de ordem tais como «A paz é urgente, no médio oriente» ou «Fim à agressão! Mais guerra não».
O acto público «Pela Paz! Fim à agressão à Síria» – subscrito por 28 organizações – serviu para condenar a recente escalada bélica, com o recente ataque dos EUA, Reino Unido e França, realizado no passado dia 14, através do lançamento de mais de cem mísseis, e que contou com o expresso apoio da NATO, da União Europeia e de Israel.
Uma «agressão a um Estado soberano, em completo desrespeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, e sob o pretexto de uma alegada utilização de armas químicas», realizado horas antes de os investigadores internacionais entrarem no país. Uma acção «desencadeada quando foram alcançados, pelo diálogo e esforços de vários países, importantes avanços no caminho da paz», lê-se no apelo conjunto.
Entre as 28 organizações, tiveram a oportunidade de falar representantes do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), da CGTP-IN, do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e do Movimento Democrático das Mulheres (MDM).
Dois pesos e duas medidas
Augusto Praça, da secção internacional da CGTP-IN, salientou que é caricato que os mesmo países que lançam bombas, com pretextos humanitários, sejam os mesmos que estão agora calados quanto à guerra impiedosa da Árabia Saudito no Iémem, além de fornecerem armas e apoio ao agressor. «Aí ninguém intervém», afirmou.
«Quem quer a verdade sobre o alegado ataque com armas químicas, que recorde-se não foi comprovado, não ataca a Síria com mais de 100 mísseis de cruzeiro horas antes da equipa de peritos da ONU, a convite do governo sírio, começar a sua investigação», afirmou Filipe Ferreira do CPPC.
Um ataque promovido pelos mesmos países que já foram sucessivamente apanhados a agir ilegalmente na Síria e a «promover, contra o povo sírio, vários grupos terroristas que criaram, armaram e apoiam», afirmou o activista pela paz. Reiterou ainda não estar esquecido das «guerras de agressão realizadas no Iraque e na Líbia, na mais descarada mentira e propaganda de guerra», com resultados bem à vista.
Entre as várias intervenções, de certa forma consensuais, ficou claro que quem sofre mais com o prolongamento do conflito e a escalada militar é o povo sírio. Havendo uma possibilidade concreta de paz, esta «só pode ser alcançada com o pleno respeito pela soberania, independência e integridade territorial deste país», frisaram.
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