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POESIA E MÚSICA DA RESISTÊNCIA

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01
Set18

TRUMP E JUNCKER: MERCEDES E BMW EXPLICAM

António Garrochinho


Ambos concordarem em isentar a indústria automóvel da guerra comercial que continua a travar-se
Pilar Camacho, Bruxelas

Depois da tempestade veio a bonança, alegrou-se o mainstream mediático com as notícias dando como enterrado o machado de guerra comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos depois do acordo salvador de 25 de Julho entre Jean-Claude Juncker e Donald Trump. Pura ilusão: do lado europeu, só os impérios da indústria automóvel alemã têm razões para regozijar-se.
Os europeístas incuráveis, contudo, estão aliviados: a declaração do presidente norte-americano que fez da União Europeia uma “inimiga” foi supostamente válida apenas durante duas escassas semanas. No entanto, o que acontece é que, mesmo sem mandato democrático e criando condições para que a União Europeia se apresente, doravante, dividida perante Donald Trump, o presidente da Comissão Europeia fez em Washington as cedências mais do que suficientes para transformar a guerra das tarifas aduaneiras em capitulação dos 27.
“Este êxito pode evitar uma guerra comercial e salvar milhões de empregos”, proclamou o ministro alemão da Economia, Peter Almaier, depois de Jean-Claude Juncker ter anunciado o acordo alcançado na Casa Branca a propósito da chamada “guerra de tarifas e normas alfandegárias”, decretada pela Administração Trump contra a União Europeia.
Um acordo meramente transitório, que faz a ponte para as negociações aduaneiras que vão seguir-se e face às quais Bruxelas parte agora em desvantagem, depois de ter metido vários golos na própria baliza.
A alegria do ministro da Economia alemão contrastou com a discrição do seu par francês das Finanças, Bruno Le Maire, ao interrogar-se sobre a “reciprocidade” que Juncker terá alcançado. Uma nota dissonante entre os solistas da União Europeia capaz de se repercutir como uma desafinação total na orquestra dos 27.
A satisfação do ministro alemão não surpreende quando se escalpeliza o acordo e o papel de quem o negociou pelo lado europeu: Martin Selmayr, chefe de gabinete de Juncker, um político sintonizado com a CDU alemã e com o grande patronato germânico.
A capitulação
Qual é, de facto, o conteúdo autêntico do acordo alcançado entre Jean-Claude Juncker e Donald Trump?
As medidas anteriormente anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos elevando as taxas alfandegárias sobre produtos estratégicos europeus, designadamente o aço e o alumínio, mantêm-se inalteradas.
Entretanto, a Comissão Europeia comprometeu-se a que os Estados membros da União comprem soja e gás de xisto em quantidades “massivas” aos Estados Unidos. Ora a soja norte-americana não obedece às normas sanitárias europeias, pois grande parte corresponde a organismos geneticamente modificados, vulgo transgénicos; por outro lado, o gás de xisto (obtido através do contestado e ambientalmente catastrófico método de fracking) é, além disso, muito mais dispendioso do que o gás natural. Acresce que a Comissão Europeia e os governos dos países da União não têm, entre as suas competências, a de obrigar as empresas da Europa e os consumidores europeus a recorrerem aos citados produtos norte-americanos.
Por outro lado, como notou o ministro francês Bruno Le Maire quando se interrogou sobre a “reciprocidade”, o acordo selado não faz qualquer alusão a assuntos prioritários europeus, designadamente a garantia de acesso aos mercados públicos norte-americanos protegidos pelo Buy American Act.
Do mesmo modo, o acordo silencia as divergências entre os dois lados do Atlântico quanto ao Acordo de Paris sobre o clima; nem inclui qualquer medida europeia de salvaguarda perante a extraterritorialidade do direito norte-americano traduzida na obrigatoriedade de as empresas europeias respeitarem as sanções norte-americanas contra o Irão.
A “cedência” norte-americana
Até agora, a história do acordo é a das cedências e omissões do lado europeu.
Não se diga, porém, que não existe uma importante “cedência” do lado norte-americano. Donald Trump aceitou que, por enquanto, as novas tarifas alfandegárias de 25% por ele determinadas não atinjam a indústria automóvel europeia, mantendo-se nos 12% actuais enquanto durarem as negociações – caso estas decorram segundo os interesses de Washington.
Ora em termos de indústria automóvel europeia e da sua relação com o mercado norte-americano, o acordo parece talhado à medida de impérios alemães do sector como a Mercedes e a BMW. Estes, sim, foram os interesses dos “europeus” defendidos pela Comissão Europeia perante Trump, através de Jean-Clade Juncker e do seu negociador de turno, Martin Selmayr, homem do grande patronato germânico.
Sobre a qualidade do acordo e sua repercussão no quadro geral da União falam as posições críticas de Paris, em contrate com a satisfação alemã. A Comissão Europeia conseguiu, desta maneira, romper a unidade que a União Europeia tinha manifestado perante os desafios colocados por Trump. Ruptura essa com a gravidade evidenciada pelo facto de atingir o eixo franco-alemão, um pilar estratégico da União.
Existe ainda um aspecto perverso na armadilha montada por Juncker ao serviço da Alemanha: a partir de agora, o país entre os 27 que se declare contra o festejado acordo, por nele não encontrar reflectidos os seus interesses, incorre no pecado de se tornar um “inimigo” dos norte-americanos – algo que não será muito aconselhável neste mundo “ocidental, civilizado e democrático”, vivendo sob o chapéu protector da NATO.
Tempos houve, historicamente muito recentes, em que Jean-Clade Juncker foi o chefe da secção luxemburguesa da Gládio, organização terrorista e conspirativa clandestina da NATO, naturalmente dirigida pelos Estados Unidos através da CIA.

Há tarefas que nunca mudam, mesmo que os cargos variem de designação.

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